quinta-feira, 19 de junho de 2008

Meritocracia

*O autor deste texto é João Pereira Coutinho, jornalista. Vale a penaler!*'
Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta nãoaconselham temeridades.Hordas de amigos constituem as respectivas proles e,apesar da benesse, não levam vidas descansadas.Pelo contrário: estãoinvariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornosparticularmente patológicos.Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vidadependia do berço, da posição social e da fortuna familiar.Hoje, não. Acriança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com asbarreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições depiano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores,explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro decompetição.Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedadesmodernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessospessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométricapara o infinito.É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinhode sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forteno Prozac.É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, maisqueremos.Quanto mais queremos, mais desesperamos.A meritocracia gera umainsatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço dehumanidade.O que não deixa de ser uma lástima.Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiamque o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade! '


Ainda bem que a vida não depende nem do berço nem da fortuna pessoal mas do desempenho que as pessoas demonstrem, ainda que a realidade nos dê, infelizmente, provas de que nem sempre é assim. Mas temos que nos agarrar aos exemplos em que de facto o que venceu foi o mérito.
Também não tenho filhos e não gostava de criar, os que tiver, como potros de competição mas como pessoas responsáveis, íntegras e bem formadas e isso não depende dos explicadores, educadores e psicólogos, começa em casa. Quanto à pista de atletismo, se aquelas qualidades estiverem presentes, acredito piamente que é possível conciliar a meritocracia com a humanidade.
E porque é que o jornalista fala em maridinho de sonho e não fala em mulherzinha de sonho visto ele ser homem?!! Os amigos de sonho?! Isso não são amigos são contactos/conhecimentos.
E de tudo o que o senhor diz fica a dúvida: afinal treme por ter crianças porquê? Porque tem medo de ser feliz? Ou porque teme deixar de ser feliz? E porque não ter crianças e ensinar-lhes que o fim último da vida é a felicidade e não a excelência, huummm... Se calhar dá mais trabalho a ser pai do que ser um treinador de potro de competição.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

“Of Love and Other Demons”

Acabei de ler “Of Love and Other Demons” de Gabriel Garcia Márquez.
Adorei a história que, como não podia deixar de ser, é de amor e apesar de ser impossível é inevitável.
É a história de Sierva Maria Todos los Angéles - a quem não é cortado o cabelo desde o seu nascimento e não será até ao dia do seu casamento - filha de um “aristocrata” da nobreza sul-americana dono de plantações de açúcar, e de uma mulher ambiciosa filha de um negociante de escravos. Sierva Maria Todos los Angéles vai ser, desde o nascimento, negligenciada pelos pais, por ser a prova palpável de um casamento sem amor e que faz lembrar a ambos a existência do outro. Passa a viver na sanzala com os escravos aprendendo a língua, costumes, hábitos e crenças dos negros até ao dia em que faz 11 anos e no mercado é mordida por um cão com raiva. E a história começa aqui.
Corre o rumor que a rapariga foi mordida mas o facto é que passada uma semana ainda não sentiu os sintomas da doença. E o tempo vai-se passando sem que se confirme se foi mordida pelo cão. Até que a escrava que a acompanhava confirma o episódio. É trazida para a casa dos pais e o pai trata-a como uma verdadeira princesa para se redimir dos anos de negligência. Sierva Maria sente-se uma estranha, no meio de estranhos e num mundo estranho.
O pai, por influência do Bispo, decide levá-la para um convento, cuja Madre Superiora é conhecida pelo seu rigor. E mais uma vez Sierva Maria Todos los Angéles vê-se enclausurada num mundo ainda mais estranho.
Os acontecimentos passam-se nos finais do século XVIII e no seio de uma sociedade atrasada, profundamente religiosa e fanática. O resultado é que a pequena Sierva Maria Todos los Angéles, por não ter sido afectada pela doença, só pode estar possuída por um demónio. O Bispo encarrega o seu protegido, Cayetano Delaura, quanto à cerimónia de exorcismo da pequena Sierva Maria Todos los Angéles e acaba.... por se apaixonar por ela. Depois de se confessar ao Bispo é afastado da sua missão e de Maria. Delaura acaba por encontrar um túnel secreto que dá acesso ao convento e começa a encontrar-se com ela e vivem uma história de amor não tanto platónica como seria de esperar de um padre de 36 anos e uma menina de 12 anos...
No meio de um entrelaçar e “emaranhado” de episódios, como é normal nas histórias de Gabriel Garcia Márquez, que vêm confirmar acerca da maldade que “vive” dentro de Maria - como os acessos de violência que ela tem quando lhe tentam tirar os colares que tem ao pescoço até à morte do padre que vai substituir Cayetano Delaura na função de a exorcizar por causas estranhas e misteriosas depois de a ter ido visitar - tudo indica que a menina tem mesmo que ser sujeita a um exorcismo o que acaba por ocorrer com o próprio Bispo a ser o exorcista.
O final, como seria de antever, não é feliz: Maria morre, o Bispo morre, o pai de Maria morre, Cayetano Delaura fica sem Sierva Maria Todos los Angéles.
Claro que Sierva Maria Todos los Angéles é a personagem mais forte do livro. Apesar de ser uma menina de 12 anos, esta personagem revela-se muito forte por detrás da sua aparente inocência de criança. Ou antes, a sua inocência é interpretada como tendo sempre segundas intenções ou uma mão mais experiente por detrás das suas acções mas Maria age sim segundo os seus mais puros instintos: procura protecção junto daqueles que lhe dão provas de confiança como são os escravos, como é o padre Delaura, defende-se de quem a ataca - as freiras - protege os seus colares que são símbolos de protecção.
Depois há as outras histórias paralelas à de Sierva Maria e que são contadas: o percurso da sua mãe até à degradação e que acaba a viver sozinha numa casa no meio de uma plantação que, entretanto, também foi abandonada e tem por companhia apenas aves de rapina; o pai que acaba também por morrer sozinho em casa na companhia dos seus mastins; o Bispo que morre com um ataque de asma durante a sessão de exorcismo de Sierva Maria Todos los Angéles; Abrenuncio o médico/alquimista que está na lista da Inquisição por divulgar práticas consideradas proibidas e que tem uma biblioteca riquíssima e cheia de obras também elas proibidas pelo Santo Ofício; o padre Delaura que fica sozinho e como auto - penitência vai tratar de leprosos.
Na introdução Gabriel Garcia Márquez faz a referência a um episódio, a partir do qual se baseou para esta história, e que lhe sucedeu quando trabalhava para um pequeno jornal enquanto repórter: o levantamento das ossadas de uma criança que tinha preso ao crânio uma longa cabeleira. Garcia Márquez lembrou-se da lenda que a sua avó lhe contava acerca de uma menina de doze anos que tinha uma cabeleira que parecia um véu de um vestido de noiva e a quem foram atribuídos muitos milagres.
Para quem goste do "realismo mágico"...

terça-feira, 17 de junho de 2008

A melhor forma de começar...

se não com algo que me diz muito...

Had I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half light,I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.

Pequena introdução

Parece-me acertado, antes de começar a publicar seja o que for, dizer qual a minha pretensão: ler o que as pessoas tenham a dizer acerca do que aqui se publicar. Esse o grande objectivo.
E o que é que aqui se vai publicar? Um bocadinho de tudo e nada em especial.