terça-feira, 31 de março de 2009

"The White Tiger" - Aravind Adiga

Acabei de ler este livro e gostei bastante. Mesmo muito.
A história é narrada pela personagem principal, Balram, da sua ascensão de criado numa loja de chá na sua aldeia natal, até motorista de um homem rico em Nova Deli e de motorista a empresário em Bangalore.
Balram conta a história da sua vida em forma de carta dirigida ao Primeiro-Ministro chinês durante 7 noites.
Gostei bastante do livro porque retrata bastante bem a realidade na Índia. A diferença entre castas, entre religiões, a corrupção que existe, e acima de tudo, a diferença entre ricos e pobres, o poder do dinheiro no seu esplendor. Uma Índia de Luz e uma Índia de Escuridão, uma Índia de homens de barrigas grandes e uma Índia de barrigas pequenas. Mas esta descrição é feita de uma forma quase cómica, em forma de comédia negra, irónica e ridícula. Das palavras do autor fica a imagem de que a 99% da população dos indianos não se mexe para mudar o sentido de como a sociedade está instituída. Apesar de haver algumas vozes que tentam fazerem-se ouvir não são suficientes. O progresso de que a Índia tem sido objecto não abrange todos, é um progresso ilusório.
Durante a história, a mensagem que transparece é que na Índia o dinheiro é MESMO tudo, os fins justificam todos os meios, a imaginação para sobreviver não tem limites, e quem é mais expedito sobressai, um em cada geração como o Tigre Branco.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Acerca de uma triste despedida...

Li hoje um post de despedida de uma rapariga que faleceu na passada Sexta-feira. Foi o namorado que ficou incumbido de publicar o post no dia em que ela falecesse. Dei com este post através de um outro blog que fazia referência à morte desta rapariga. Fui ler o texto de despedida dela. Chamava-se Tânia, tinha 27 anos e morreu com uma doença cardíaca chamada miocardiopatia dilatada.
As palavras dela tocaram-me, nem podia ser de outra forma quando lemos algo escrito por alguém que sabe que vai morrer, mesmo que seja alguém que nunca conhecemos e de quem nunca ouvimos falar.
É assustador vermos o quanto delicada e frágil é a nossa existência. Como de um momento para o outro tudo muda. Como de um momento para o outro as coisas passam a ser vistas com outros olhos, a terem outro valor. E, nós, os que estamos bem, ao ler essas palavras vemos a sorte que temos. Em como pequenas coisas que nos incomodam no dia-a-dia são mesmo assim, pequenas, pequeninas. E que nem sempre damos o devido valor a tudo o que nos rodeia, a quem nos rodeia, a todos os momentos maravilhosos que vivemos, a todos os pequenos prazeres que temos todos os dias, como chegar a casa e ter alguém maravilhoso à nossa espera, poder ler um livro, ver um filme, espreguiçarmo-nos e adormecer no sofá na companhia e com o calor dos nossos animais de estimação (ainda que durante o dia contribuam para a lenta destruição do sofá!)
Como aquela rapariga diz, a Tânia, as palavras bonitas são para serem ditas enquanto cá estamos...

http://pikenatonta.blogspot.com/

quinta-feira, 26 de março de 2009

Being happy

´´Being happy doesn't mean that everything is perfect. It means that you've decided to look beyond the imperfections."

sexta-feira, 20 de março de 2009

The World Challenge: Projectos que realmente fazem a diferença.

The World Challenge, é uma competição a nível global que, apoiada pela BBC, Newsweek e Shell, visa encontrar, promover e premiar projectos, ou pequenos negócios inovadores em qualquer parte do mundo. Mas o mérito desta competição reside no facto de que esses projectos, ou pequenos negócios, têm um forte impacto positivo nas comunidades locais onde são desenvolvidos e, simultaneamente, fazem um aproveitamento sustentável dos meios naturais disponíveis.
No ano passado o vencedor foi um projecto paquistanês que ajuda as mulheres paquistanesas a aumentar o seu rendimento através da venda de mel de alta qualidade, o Plan Bee. As áreas do norte do Paquistão são das mais isoladas e das mais pobres do país sendo as mulheres e as crianças os mais afectados. A solução mais viável foi, neste caso, capitalizar os recursos naturais disponíveis através do desenvolvimento e construção de um projecto culturalmente aceite.
Outro exemplo, o vencedor de 2007, um projecto peruano chamado T’ikapapa. Os agricultores dos Andes estão entre as pessoas mais pobres do país (US$1 por dia). No entanto estão rodeados de uma potencial mina: existem na região mais de 3.000 variedades de batata ricas em vitaminas e que crescem sem aditivos. T’ikapapa veio estabelecer a ponte entre os agricultores e o mercado de batatas permitindo que os agricultores tirem proveito de tão valioso produto. O número de famílias beneficiadas cresceu de 72, em 2004, para 200 em 2007.
Mas existem outros, muitos outros projectos que foram finalistas: uma aldeia auto-suficiente no Nepal para leprosos (Shanti Sewa Griha), uma escola no Haiti para crianças cujos pais não têm dinheiro para os uniformes e sapatos sem os quais não podem ir para as escolas oficiais (The Paradis des Indiens), ou nas Filipinas o uso dos desperdícios dos côcos para evitar o deslizamento de terras e consequente erosão do solo (Coconets).
Admiro e respeito profundamente todo o tipo de iniciativas que visem ajudar, promover o desenvolvimento, e educar as pessoas que se encontrem em situações de pobreza ou de necessidade extremas seja por que razão for : pela sua condição, por se encontrarem em ambientes de guerra ou de catástrofes naturais. São de louvar os esforços diários que milhares de pessoas fazem para ajudar tantas outras. E sou particular admiradora deste tipo de iniciativas que se propõem em promover a auto-suficiência de comunidades locais com o que têm e que na maioria das vezes é pouco.
Este é o quinto ano do World Challenge que “is about championing and rewarding projects and business which really make a difference”.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Nuno Júdice

"Podíamos saber um mais
da morte.Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.
Podíamos saber um pouco mais
da vida.Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.
Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor."

quarta-feira, 18 de março de 2009

Citação de "Civilisation"

"Man is the measure of all things."
Protagoras

"Civilisation" by BBC


Tenho andado a acompanhar uma série em dvd que, à primeira vista, pensei que devia ser um bocado chata. Curiosamente estou a achar super interessante. Chama-se “Civilisation: A Personal View by Kenneth Clark”.
Porque é que achei que devia ser chata? Porque é do final dos anos 60. Porque é que estou a achar interessante? Porque é o percurso da História da Europa Ocidental, desde a queda do Império Romano, passando pela Revolução Industrial até ao Séc. XX, a partir da perspectiva artística. Quando falo da perspectiva artística falo de pintura, escultura, manuscritos, música e arquitectura que marcaram a História Europeia.
O documentário - que se traduziu numa série passada na BBC em 1969 - demorou mais de dois anos a ser feito tendo sido filmados mais de 100 locais em 13 diferentes países. A fotografia é óptima e os grandes planos de pequenos detalhes é das coisas que mais tenho gostado.
Acredito que nos anos 60 tivesse sido considerada uma obra-prima. Esta perspectiva de 'history of ideas as illustrated by art and music' serviu de inspiração a outras séries posteriores.
A concluir, Lord Kenneth Clark foi um eminente historiador de arte.
Para quem vá até Hong Kong está à venda na HMV mas também há à venda na Amazon.

terça-feira, 17 de março de 2009

Coragem, esperança e fé

"Faith is the bird that feels the light and sings when the dawn is still dark"
Rabindranath Tagore

O monstro

Começou o julgamento de um dos casos mais horrorosos que já ouvi: o do pai austríaco que durante 24 anos manteve prisioneira a filha numa cave, abusou e teve filhos dela.
Não consigo arranjar adjectivos que qualifiquem esta monstruosidade. Desde a premeditação e construção da “casa subterrânea”, até à sujeição de vários seres humanos, durante largos anos, sem verem a luz do dia e sem terem contacto com outras pessoas para além do carcereiro, não há palavras que qualifiquem este “homem”.
A acusação, dirigindo-se aos jurados, perguntou se alguma vez tinham imaginado como seria viver numa cave, descrevendo o ambiente húmido, com água a escorrer pelas paredes dando-lhes a cheirar objectos do dia-a-dia e que estavam na cave.
O advogado de defesa, por sua vez, pediu aos jurados para verem o seu cliente não como um monstro mas como um ser humano.
Josef Fritzl, assim se chama o “ser humano”, admitiu ter cometido alguns dos crimes excepto escravatura e homicídio (crimes com penas mais pesadas).
Nos próximos dias o tribunal vai ouvir e ver o depoimento gravado da filha de Fritzl.
São casos como este que nos fazem questionar sobre o direito que assiste a este homem a ter uma defesa, a ter sequer um julgamento. Mas não existir defesa nem julgamento seria cair na brutalidade do próprio Fritzl.
Seja qual for a pena que lhe for dada nunca será justa face à que ele sujeitou a própria filha.

segunda-feira, 16 de março de 2009

"Waltz with Bashir" - Ari Folman

Vi na semana passada um filme, aconselhado por um colega, que adorei e que recomendo vivamente. Chama-se “Waltz with Bashir”. É em animação mas para adultos. É israelita e foi um dos nomeados para melhor filme estrangeiro nos Óscares deste ano e o vencedor, nessa categoria, nos Globos de Ouro.
O filme é baseado na história real do realizador Ari Folman da busca, por ele levada a cabo, quanto à verdade do que se passou nos dias da primeira Guerra do Líbano nos anos 80. Ele precisa de descobrir a verdade sobre os acontecimentos e sobre o seu lugar naqueles acontecimentos (foi soldado israelita) de forma a expurgar-se das memórias turvas que o acompanham quanto ao massacre dos campos de refugiados palestinianos de Sabra e Shatila.
Do ponto de vista do realizador essa verdade aterrorizadora, e quase surreal, só fazia sentido ser transposta para animação onde é possível o cruzamento entre a realidade dos acontecimentos com a imaginação e fantasia pessoais do realizador.
Gostei bastante deste tipo de animação - que desconhecia - das cores, do argumento e muito da música (investiguei e é de um compositor que já tem uns álbuns editados, chamado Max Richter).


quarta-feira, 11 de março de 2009

I'm yours

Well you done done me and you bet I felt it
I tried to be chill but you’re so hot that
I meltedI fell right through the cracks
And now I’m trying to get back
Before the cool done run out
I’ll be giving it my bestest
Nothin’s gonna stop me but divine intervention
I reckon its again my turn to win some or learn some

I won’t hesitate no more, no more
It cannot wait, I’m yours

Well open up your mind and see like me
Open up your plans and damn you’re free
Look into your heart and you’ll find love love love love
Listen to the music of the moment people, dance and sing
We just one big family
Its your godforsaken right to be loved love loved love love

So I won’t hesitate no more, no more
It cannot wait I'm sure
There's no need to complicate
Our time is short
This is our fate, I’m yours

I've been spending way too long checking my tongue in the mirror
And bendin' over backwards just to try to see it clearer
My breath fogged up the glass
So I drew a new face and laughed
I guess what I'm sayin is there aren't no better reason
To rid yourself of vanity and just go with the seasons
Its what we aim to do
Our name is our virtue

But I won't hesitate no more, no more
it cannot wait i’m yours

Well open up your mind and see like me
Open up your plans and damn you're free
Look into your heart and you'll find the sky yours
So please don't, please don't, please don't
There's no need to complicate
Cause our time is short
This is this is this is our fate, I'm yours








terça-feira, 10 de março de 2009

"The Painted Veil" - W. Somerset Maugham

Começo com o poema do qual Somerset Maugham tirou as primeiras palavras com as quais iniciou “The Painted veil”: Lift not the painted veil which those who live Call Life.

Lift not the painted veil which those who live Call Life: though unreal shapes be pictured there,

And it but mimic all we would believe With colours idly spread,--behind, lurk Fear And Hope, twin Destinies; who ever weave

Their shadows, o'er the chasm, sightless and drear.

I knew one who had lifted it--he sought,

For his lost heart was tender, things to love,

But found them not, alas! nor was there aught

The world contains, the which he could approve.

Through the unheeding many he did move,

A splendour among shadows, a bright blot Upon this gloomy scene, a Spirit that strove For truth, and like the Preacher found it not.(Percy Bysshe Shelley)


Gostei muito, muito deste livro. Prendeu-me da primeira à última página e tenho a dizer que foi a segunda tentativa que fiz para o ler.

As personagens principais são: Kitty, Walter, Charlie Townsend, Waddington, a Madre Superiora, as freiras, Dorothy Townsend, e os pais e irmã de Kitty.

È uma história de amor, infidelidade, decepção, ódio, rancor, compaixão, descobrimento dos outros e do despertar interior. Como li numa das críticas: o acordar espiritual de uma mulher.

Kitty, é uma inglesa de classe média alta do início dos anos vinte/trinta que vive em Londres e que é educada para arranjar um bom casamento. É muito bonita, e até aos 24 anos recusa todas as propostas de casamento que lhe são feitas. Até que a irmã, mais nova e feia, de quem se esperava pouco, fica de casamento marcado com o filho de um barão. Nessa mesma altura Kitty tinha um admirador bacteriologista, Walter, sem fortuna e que ia viver em Hong Kong. Oportunamente, pede-a em casamento e ela aceita. Não por o amar, não por ele ser um bom partido mas porque ela já está a ultrapassar a idade casadoira, para a época, e os pretendentes vão sendo escassos mas acima de tudo porque a irmã vai-se casar.

Muda-se para Hong Kong onde conhece um homem mais velho, e que representa tudo o que ela sonhou: rico, socialmente bem posicionado, bonito, charmoso, desportista, elegante mas... casado. Começa a ter um caso com ele até ao dia em que Walter descobre. Até aqui nada de novo em relação a todas as outras histórias de infidelidade.

O marido faz-lhe um ultimato: só a deixa entrar com o pedido de divórcio se o amante lhe garantir que deixa a mulher para se casar com Kitty e, para além disso, se a mulher de Charlie garantir, por escrito, que irá pedir o divórcio a Charlie. Se assim não for Kitty tem duas opções: enfrentar a vergonha de ser o marido a pedir o divórcio, com base no adultério, ou ir com ele para uma cidade na China onde há um surto de cólera e para onde ele se ofereceu mudar.

Charlie diz a Kitty que não deixa a mulher que isso nunca lhe passou pela cabeça e Kitty vê-se obrigada a ir com o marido para o interior da China. Aí, vivem os dois como estranhos, ele passa os dias no consultório e ela os dias sozinha em casa. Conhecem Waddington um inglês com quem travam amizade. Este, um dia leva Kitty a conhecer o convento onde são tratados doentes e onde se encontram uma série de orfãos. Kitty fica tocada pelas freiras, pelo trabalho que elas desenvolvem, pelo desprendimento destas, por terem partido dos seus países, deixado as famílias - são francesas - e terem decidido dedicar as suas vidas a outras vidas tão longe de casa. Especial impacto sobre Kitty tem a Madre Superiora que detém uma postura grave, imponente, superior mas toda ela dedicação à escolha que fez muitos anos antes: dedicar-se aos outros.

Kitty começa a ajudar as freiras com as crianças. E sente que até aí a sua vida, a sua existência foram vazias, sem valor, inferiores, que todos os males de que ela se queixava eram insignificantes. Que a dor que ela sentiu quando Charlie lhe disse que não iria deixar a mulher por ela, não tinha comparação com a devastação que a rodeava. O sentimento que sentia pelo marido começa a mudar à medida que vê a importância do trabalho que ele desenvolve, da dedicação dele àquelas pessoas e da admiração que toda a gente tem por ele. Que o homem que ela julgava sem qualquer interesse não é um fútil, um homem vazio e vaidoso ao contrário do antigo amante. Se bem que não o começa a amar começa a admirá-lo. Descobre que está grávida não sabe se de Walter se de Charlie. Até à noite em que Waddington aparece em sobressalto a chamá-la para ir até ao convento onde Walter está de cama com... cólera. Walter morre.

Kitty volta para Hong Kong onde é recebida como uma verdadeira heroína pela mulher de Charlie, Dorothy, que insiste para que ela fique em casa de ambos até partir para Londres para casa dos pais. Kitty depois de muita insistência acaba por aceitar. Envolve-se com Charlie uma vez, por fraqueza, por desejo apenas. Por solidão, acho eu.

No dia seguinte compra o bilhete de barco para Londres e parte. A mãe entretanto morre e o pai é promovido para o lugar de Chief of Justice nas Bahamas. Kitty pede para ir com ele para ela poder ter a oportunidade de criar a filha, que ela acha que vai ter, como uma pessoa autónoma, livre, sem ter que precisar de ninguém, de homem nenhum que a sustente, que não venha a ser guiada apenas pelas aparências mas por o que as pessoas valem, e pelo que ela acredita. Para não ser vazia e fútil como ela foi.