terça-feira, 10 de março de 2009

"The Painted Veil" - W. Somerset Maugham

Começo com o poema do qual Somerset Maugham tirou as primeiras palavras com as quais iniciou “The Painted veil”: Lift not the painted veil which those who live Call Life.

Lift not the painted veil which those who live Call Life: though unreal shapes be pictured there,

And it but mimic all we would believe With colours idly spread,--behind, lurk Fear And Hope, twin Destinies; who ever weave

Their shadows, o'er the chasm, sightless and drear.

I knew one who had lifted it--he sought,

For his lost heart was tender, things to love,

But found them not, alas! nor was there aught

The world contains, the which he could approve.

Through the unheeding many he did move,

A splendour among shadows, a bright blot Upon this gloomy scene, a Spirit that strove For truth, and like the Preacher found it not.(Percy Bysshe Shelley)


Gostei muito, muito deste livro. Prendeu-me da primeira à última página e tenho a dizer que foi a segunda tentativa que fiz para o ler.

As personagens principais são: Kitty, Walter, Charlie Townsend, Waddington, a Madre Superiora, as freiras, Dorothy Townsend, e os pais e irmã de Kitty.

È uma história de amor, infidelidade, decepção, ódio, rancor, compaixão, descobrimento dos outros e do despertar interior. Como li numa das críticas: o acordar espiritual de uma mulher.

Kitty, é uma inglesa de classe média alta do início dos anos vinte/trinta que vive em Londres e que é educada para arranjar um bom casamento. É muito bonita, e até aos 24 anos recusa todas as propostas de casamento que lhe são feitas. Até que a irmã, mais nova e feia, de quem se esperava pouco, fica de casamento marcado com o filho de um barão. Nessa mesma altura Kitty tinha um admirador bacteriologista, Walter, sem fortuna e que ia viver em Hong Kong. Oportunamente, pede-a em casamento e ela aceita. Não por o amar, não por ele ser um bom partido mas porque ela já está a ultrapassar a idade casadoira, para a época, e os pretendentes vão sendo escassos mas acima de tudo porque a irmã vai-se casar.

Muda-se para Hong Kong onde conhece um homem mais velho, e que representa tudo o que ela sonhou: rico, socialmente bem posicionado, bonito, charmoso, desportista, elegante mas... casado. Começa a ter um caso com ele até ao dia em que Walter descobre. Até aqui nada de novo em relação a todas as outras histórias de infidelidade.

O marido faz-lhe um ultimato: só a deixa entrar com o pedido de divórcio se o amante lhe garantir que deixa a mulher para se casar com Kitty e, para além disso, se a mulher de Charlie garantir, por escrito, que irá pedir o divórcio a Charlie. Se assim não for Kitty tem duas opções: enfrentar a vergonha de ser o marido a pedir o divórcio, com base no adultério, ou ir com ele para uma cidade na China onde há um surto de cólera e para onde ele se ofereceu mudar.

Charlie diz a Kitty que não deixa a mulher que isso nunca lhe passou pela cabeça e Kitty vê-se obrigada a ir com o marido para o interior da China. Aí, vivem os dois como estranhos, ele passa os dias no consultório e ela os dias sozinha em casa. Conhecem Waddington um inglês com quem travam amizade. Este, um dia leva Kitty a conhecer o convento onde são tratados doentes e onde se encontram uma série de orfãos. Kitty fica tocada pelas freiras, pelo trabalho que elas desenvolvem, pelo desprendimento destas, por terem partido dos seus países, deixado as famílias - são francesas - e terem decidido dedicar as suas vidas a outras vidas tão longe de casa. Especial impacto sobre Kitty tem a Madre Superiora que detém uma postura grave, imponente, superior mas toda ela dedicação à escolha que fez muitos anos antes: dedicar-se aos outros.

Kitty começa a ajudar as freiras com as crianças. E sente que até aí a sua vida, a sua existência foram vazias, sem valor, inferiores, que todos os males de que ela se queixava eram insignificantes. Que a dor que ela sentiu quando Charlie lhe disse que não iria deixar a mulher por ela, não tinha comparação com a devastação que a rodeava. O sentimento que sentia pelo marido começa a mudar à medida que vê a importância do trabalho que ele desenvolve, da dedicação dele àquelas pessoas e da admiração que toda a gente tem por ele. Que o homem que ela julgava sem qualquer interesse não é um fútil, um homem vazio e vaidoso ao contrário do antigo amante. Se bem que não o começa a amar começa a admirá-lo. Descobre que está grávida não sabe se de Walter se de Charlie. Até à noite em que Waddington aparece em sobressalto a chamá-la para ir até ao convento onde Walter está de cama com... cólera. Walter morre.

Kitty volta para Hong Kong onde é recebida como uma verdadeira heroína pela mulher de Charlie, Dorothy, que insiste para que ela fique em casa de ambos até partir para Londres para casa dos pais. Kitty depois de muita insistência acaba por aceitar. Envolve-se com Charlie uma vez, por fraqueza, por desejo apenas. Por solidão, acho eu.

No dia seguinte compra o bilhete de barco para Londres e parte. A mãe entretanto morre e o pai é promovido para o lugar de Chief of Justice nas Bahamas. Kitty pede para ir com ele para ela poder ter a oportunidade de criar a filha, que ela acha que vai ter, como uma pessoa autónoma, livre, sem ter que precisar de ninguém, de homem nenhum que a sustente, que não venha a ser guiada apenas pelas aparências mas por o que as pessoas valem, e pelo que ela acredita. Para não ser vazia e fútil como ela foi.

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